terça-feira, 8 de agosto de 2017

Tecnologia e dignidade. Aplicação de microchips em trabalhadores. 3

Texto na continuação de outros (aqui

As notícias sobre a implantação de microchips em trabalhadores de grandes empresas estão a tornar-se frequentes. O registo é, com ligeiras variações, o seguinte: "mais uma empresa... a técnica é indolor, não incomoda... são inúmeras as vantagens desta tecnologia para o trabalhador... ninguém é obrigado a fazer o implante mas as pessoas acabam por aceitá-lo". Seguem-se, a ilustrar a veracidade do que é dito, depoimentos de tecnólogos, de responsáveis por empresas e de "implantados".

Se nada se fizer, em muito pouco tempo, essa prática que não é de modo nenhum compaginável com a ideia de dignidade humana, deixará de estar circunscrita a empresas e a escolas (onde também se multiplica) e generalizar-se-á aos mais diversos sectores da sociedade. Além disso, a opção do sujeito, (que nada tem de livre, sendo coacção velada) passará a ser uma obrigação.



Imagem retirada daqui

Eis a síntese de uma notícia sobre o assunto, publicada no início de Agosto nos jornais online The Independent e USA Today (aqui e aqui). 
Uma certa empresa norte-americana de tecnologia foi a primeira de carácter mundial a instalar microchips nos seus trabalhadores. 
Nesta empresa ou noutra qualquer, o uso do mencionado dispositivo permite aos trabalhadores aceder a equipamentos - computadores, fotocopiadoras, etc -, pagar consumos de bar, abrir portas, conectar-se com os colegas. 
Por via da conexão com os colegas, todos têm, a todo o momento, possibilidade de saber "quais são seus papéis, traços comportamentais, estilos de comunicação, pontos fortes e fracos". Diz-se, e talvez seja verdade, que este "feedback imediato" permite melhorar o desempenho individual e colectivo.
É claro que a empresa tem acesso a todos os dados, que arquiva e relaciona, dando a gerentes, directores, etc. "uma visão panorâmica" do funcionamento de cada um, das equipes e da organização. 
As notícias avançam e esclarecem que uma nova tecnologia integrada nos chips permite transcender as fronteiras da empresa, ainda que não perdendo a ligação a ela: o trabalhador pode usar o dispositivo para fazer pagamentos privados, viajar em transportes públicos, armazenar os seus dados médicos, etc.
É muito curiosa a "generosidade" das empresas: oferecem o fantástico dispositivo a todos os trabalhadores! E logo dizem esperar ser correspondidas, o que se traduz na adesão de umas dezenas. Os "chispados" arrastarão outros, que arrastarão outros... com estratégias tão primárias como usar uma camisola onde está escrito "I Got Chipped".
Ver outras notícias aqui e aqui

1 comentário:

AFonseca disse...

Grato Helena pelos três posts que analisam três facetas de um assunto com implicações éticas perturbantes e que não tem gerado a discussão pública que merecia. Com a agravante do entusiasmo com que tem sido recebido por alguns media de referência (p.ex. BBC*) e comentadores tecno-optimistas. Num outro post referiu-se ao livro 'Sociedade do cansaço' do filósofo Byung-Chul Han - recomendo um outro seu livro 'Psico-política' onde ele discorre sobre a actual forma global de poder, sedutor e inteligente, que submete os cidadãos dando a ilusão de liberdade e realização através das redes sociais, dos algoritmos e da Big Data.
Saudações,
Álvaro Fonseca (Lisboa)
* http://www.bbc.com/capital/story/20170731-the-surprising-truths-and-myths-about-microchip-implants

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