domingo, 21 de agosto de 2016

A PROFECIA


Recentemente. tive oportunidade de apresentar no belo Café Santa Cruz em Coimbra, com casa cheia, o livro de António Costeira, "A Profecia", Edições Vieira da Silva, 2016) do qual saiu recentemente segunda edição).

Devo começar por dizer que não sou um  grande leitor e, portanto, conhecedor do género fantástico, no qual se insere o primeiro livro de António Costeira (parabéns, nunca é tarde para começar!). Isto apesar de saber que é um dos géneros literários mais apreciados em todo o mundo, sendo por isso um dos que mais vende. Os clássicos são (consulto a Wikipedia: a tabela indica autores e os números mínimo e máximo da estimativa de vendas em todo o mundo de todos os seus livros)

C. S. Lewis (1898-1963)100 million200 millionEnglishThe Chronicles of Narnia, fantasy, popular theology
J. R. R. Tolkien (1892-1973)200 million250 millionEnglishThe Lord of the RingsThe Hobbit, classical fantasy

Mas há também dois "modernos clássicos":
George R. Martin (n. 1948)50 million60 millionEnglishA Song of Ice and Fire
J. K. Rowling (n. 1965)350 million450 millionEnglish
Harry Potter

O livro A Profecia, de subtítulo Naur'can, inscreve-se nessa tradição, sendo imediatamente perceptível que o autor conhece os clássicos. A linguagem de Costeira, filho de uma professora primária que deixou no seu espólio um conto infantil não publicado, é simples, mas a simplicidade do discurso é próprio destas obras com enredos muito complexos. Há muitos personagens e quer o espaço quer o tempo são muito abrangentes. O autor apresenta no início da obra um índice de personagens principais e a sua descrição dá logo a ideia de um cenário fantástico (aqui a ordem não é alfabética): 

 "Davdak: Mago, meio-irmão de de Astrid que com ela estudou pacificamente o livro das Runas. Na sua ambição de poder, quis o livro só para si, provocando com isso a fúria dos deuses e a destruição de Naur'can, tornando-se inimigo do povo elfo. Mantém a intenção de recuperar o Livro. 

 Astrid: Maga Suprema de Alagosadhar e irmã de Riclamin. Recebeu deste os Ovos de Dragão, distribui-os pelos povos e iniciou a dinastia dos Guardiões. Dedicou.-se ao estudo da profecia e lançou as bases para o seu início na Aldeia Perdida, para onde se retirou.

 Riclamin Stark: Irmão mais novo de Astrid e meio irmão de Davdak, embora o não soubesse. Guiardião da Nação Elfa, foi responsável pela vinda dos Ovos de Dragão e pela recuperação do Livro das Runas. Travou uma batalha com Davdak no deserto pela posse do Livro e veio a morrer em consequência dos ferimentos.

 Jankahn: Maga, filha de Astrid, e que ficou no seu lugar como professora de magia em Alfheinstad. Era a guardiã secreta do Livro das Runas e foi através dela que Na'Akano se revelou. 

 Na'Akano: Filho adotivo de Gilvo e pupilo de Astrid, foi para ele que o Livro das Runas se abriu, após longos anos de estudo com Jankhan."

Para facilitar a orientação espacial, o autor coloca também logo a abrir o livro um mapa da região onde se situa a acção: o fantástico reino de Alagosadhar, cuja antiga capital (a cidade foi destruída por um cataclismo) é precisamente o nome do subtítulo Naur'can. Nesse mapa, uma penínsulas montanhosa banhada por dois mares, encontramos nomes estrangeiros como Naur'can, Smênae e Alfheistad, mas também nomes portugueses como Pedra do Urso, Castelo de Vide e Forte Salvaterra (há também uma Vila Costeira, que joga com o nome do autor). Há ainda no início do livro uma explicação dos caracteres runas,a tradição cultural dos vikings, que foram usados no cirth, a linguagem mítica criada por Tolkien, e que aparecem em vários trechos do livro.

 O leitor só pela apresentação dos personagens já deve ter uma ideia do que encontrará no enredo: livros com segredos, magos poderosos, ovos de dragão, grandes ameaças, lutas terríveis. Mas o mais interessante, na minha opinião, do livro é que ele, enquadrando-se na chamada fantasia medieval (com clara influência das mitologias celtas, germânicos e escandinavos, povoados de elfos e outros seres de fantasia), o livro é também de ficção científica. Uma parte da acção passa-se na actualidade: Carlos, um graduado em "engenharia física e química" da Universidade de Coimbra, autor de uma tese de doutoramento sobre fusão fria (fantasia, claro), é abordado na cantina universitária por dois estranhos, que o convidam a instalar uma central num longínquo país nórdico. O leitor imagina já que essa central está localizada na paisagem fantástica do mapa. O autor faz, na escrita, um vaivém entre os tempos antigos e modernos. A certa altura personagens modernos entram no interior da terra e encontram...

 Deixo, um excerto que descreve uma viagem de Na'A (quer dizer Na'Akano) num deserto. As constelações não são as nossas, o que nos remete para mundos extraterrestres apesar dos nomes portugueses de algumas terras:

 "O MAPA DAS ESTRELAS sempre fascinara Na’A, mas agora no deserto elas pareciam ter um brilho diferente. Ou talvez agora olhasse para elas sob uma nova perspetiva. As estrelas não estão ali por capricho dos deuses, dissera-lhe uma vez Astrid, fazem parte da criação e, entre outras coisas, ensinam-nos o caminho quando não há outras referências, como por exemplo no deserto.

 E era agora o caso. Depois de terem respondido ao apelo do desesperado Edgard, Drellïas tinha aceitado o repto que o Duque de Unhais lhe lançara para o ajudar como seu novo comandante militar, e ele seguira o seu caminho. 

 As esparsas e amarelas luzes da cidade há muito tinham ficado para trás, e as noturnas areias frias daquele deserto deslizavam inertes sob os cascos do seu cavalo, enquanto meditava nestes assuntos. Quando entrara no extenso areal, passando por entre as últimas acácias espinhosas e arbustos pardos que marcavam o início daquela vegetação xerófila do deserto, envolvera-se na quente manta que trouxera e procurara aquela estrela que deveria manter sempre à sua direita, ligeiramente a fugir na direção da sua orelha. Não sabia porquê, mas era a única estrela que se mantinha fixa, sempre no mesmo sítio enquanto as outras passavam por ela. Era a Estrela da Mansão, aquela onde os espíritos dos antepassados repousavam e ajudavam os viajantes em busca do seu destino. O rendilhado do céu era tecido de miríades de estrelas, algumas formando formas bizarras sem sentido, mas outras, como a constelação do Auroque ou do Urso, espelhavam no céu o modelo que lhes dera nome. Havia muitas, mas a constelação do Ceptro, que o olhava de frente, era neste momento a mais importante.

 Em resumo, uma leitura fantástica... A acção fica um pouco em suspenso, pelo que aposto que vai haver continuação. 

1 comentário:

João Alves disse...

Confesso que me deixa admirado o sucesso destes livros. Para ler o pequeno resumo que aqui deixou tive de fazer um esforço enorme para não bocejar.

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