quinta-feira, 28 de abril de 2016

Jan Skácel: O Poeta do Silêncio


 
1 - A Noite
 
Ascende no céu o vento
O vento de amanhã, purpúreo
E então de novo o amor
Uma vez mais depois deste longo tempo
Desassossega a morte à distância.
 
2- Um momento em Janeiro
 
Frágil como uma casca, o dia está em silêncio.
No seu seio, o sol branco completamente branco.
E até a neve é branca, as árvores, as açoteias, a neve.
E até neste segundo é branco este momento.


3- Quando eu perder a minha voz


Quando eu perder a minha voz
não somente por minha culpa

e seres a única a me ouvir


 
então  dizer-te eu vou
o que não diz senão o mudo
e aquele que o silêncio
veio advertir.
 
4-Um Instante
 
Para alguma verdade no mundo
Se vós preferis,
Para uma lasca de silêncio.
Há um momento que rasga ao meio a terra.
Algum tempo de humildade,
Quando alguém sopra sobre nós.

 
Nota:
Foi no livro Umbrais-O Pequeno Livro dos prefácios  de João Barrento que encontrei uma breve referência a Jan Skácel, poeta nado na Morávia. Desta região da república checa são também oriundos o psicanalista Sigmund Freud,  o matemático Kurt Gödel e os poetas Jiří Wolker  e Vítěslav Nezval, sendo este último muito apreciado por Claudio Magris.
 
 
 

1 comentário:

N disse...

A noite

A fome eleva o seu apetite
Mórbida a mão magra matiza
De esquálida cor, Afrodite
Já não ama, agoniza

Mói o momento de não ser
O vento leva quem tudo foi
Despida de Deus e certeza
É casca sem dentro e não dói

Bebe a neve, o flâmeo cai
Ninguém a vê, ninguém a sente
Fogueira de gelo, no gelo se esvai
Mórbida a mão lhe dá um presente

Anel de tempo circular
No dedo mói a magra mão
Abre a esmeralda de par em par
O espelho celeste de uma visão:

Sopra um fôlego desconhecido
Nuvem de céu, rosto em chama
A fome eleva o seu apetite
De esquálida cor, Afrodite
Brilha de neve porque não ama.

FC

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