quinta-feira, 27 de outubro de 2011

EGAS MONIZ, CIENTISTA IMPROVÁVEL


Amanhã, sexta-feira, pelas 16h45 no Auditório da Reitoria em Coimbra tem lugar uma palestra, com o título de cima, de JOÃO LOBO ANTUNES, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. A entrada é livre.

RESUMO

António Caetano de Abreu Freire Egas Moniz, nascido em Avanca em 1874 e falecido em Lisboa em 1955, foi uma das figuras mais notáveis das neurociências do século XX. Licenciado na Universidade de Coimbra a sua tese a “A Vida Sexual” tornou‐se um sucesso de vendas Em 1911 transferiu‐se para a Universidade de Lisboa como professor de Neurologia. Até 1919 foi um político activo chegando a Ministro dos Negócios Estrangeiros no governo de Sidónio Pais e chefiando a delegação portuguesa à Conferência de Versalhes no final da Grande Guerra.

Aos 51 anos começou uma tardia e inesperada carreira como investigador, que levou à invenção da angiografia cerebral. Cerca de dez anos depois inicia o trabalho pioneiro na cirurgia das doenças mentais – “psicocirurgia” ‐ que lhe veio a valer o primeiro Nobel em 1949, em parte devido ao esforço da comunidade médica brasileira a quem estava profundamente ligado. Entretanto sobreviveu a um atentado por um louco que o deixou às portas da morte.

A sua produção científica foi fenomenal e o seu interesse pelas letras levou‐o a escrever, entre outras obras, uma biografia fundamental do romancista Júlio Dinis, um estudo sobre o papa João XXI e duas obras de cariz autobiográfico, “Confidências de um Investigador Científico” e “A Nossa Casa”.

Político, diplomata, homem das letras e do mundo, “gourmet” sofisticado, clínico de sucesso e cientista improvável, Egas Moniz permanece para muitos uma figura obscura e controversa, a quem se devem duas contribuições fundamentais cuja importância ainda perdura. A angiografia, que constituiu uma técnica fundamental para o diagnóstico de certas lesões do sistema nervoso, desempenha hoje um papel indispensável e imprescindível na terapêutica intra‐vascular. Quanto à psicocirurgia, depois de se ter recolhido na quase clandestinidade durante anos, ressurge hoje com renovado entusiasmo e com outra maturidade científica pelo progresso da biologia das doenças psiquiátricas, por um maior rigor na selecção dos casos, pelo avanço de novas técnicas de imagem e por uma outra exigência quanto à ética do consentimento. Conceptualmente, as modernas neurociências vieram vingar a ideia fundadora do neurologista português.

O lugar na história da Medicina que Egas Moniz procurou com tanta persistência e perícia é seu e de pleno direito.

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