terça-feira, 28 de julho de 2009

Confissões de um empreendedor

Artigo de Armando Vieira, CEO da empresa Sairmais.com, que saiu no jornal OJE:


Vivemos tempos excelentes para inovar. A necessidade aguça o engenho, e a crise actual é um grande catalisador da inovação. Baixar os braços e resignar-se numa apatia fatalista é deixar que o nosso destino seja traçado pelos outros. Há que aproveitar as virtudes de trabalhar em contra-ciclo e acreditar num futuro promissor. Bem vistas as coisas, nunca vivemos num período tão próspero e com tantas oportunidades como o actual.

O fosso que separa o nosso país dos Estados Unidos não é o facto de sermos mais pobres ou termos menos ideias que eles. Vivemos uma sociedade do conhecimento, um conhecimento universal e aberto a todos. O factor diferenciador do sucesso não é somente o dinheiro que se possui, mas sobretudo a criatividade e a capacidade de materializar as ideias em produtos. Por outras palavras, o empreendedorismo.

É precisamente aqui que se encontra o grande fosso entre estas duas culturas. Embora criativo, o português é amordaçado pelo medo atávico de falhar, de cair no ridículo, da "humilhação" pública. Nos EUA, pelo contrário, arriscar é algo natural; perder não é um estigma mas um sinal que dinamismo.

Portugal tem uma enorme quantidade de pessoas talentosas, talvez superior a outros países mais ricos, como a Finlândia. O problema é transformar esse talento e essas ideias em produtos e saber vendê-los num mercado global. Aí as nossas escolas falham, mas falham redondamente. Moldamos os alunos para serem bons funcionários, obedientes e ordeiros. Poderão ser excelentes funcionários públicos, mas serão certamente péssimos empreendedores.

Grandes investimentos em obras públicas ou injectar dinheiro em empresas moribundas, que não souberam modernizar-se em competir num mercado global, não é o caminho para o nosso país sair da crise. Acreditar no talento natural dos jovens, incentivá-los a criar empresas, apoiar as empresas de base tecnológica existentes e ajudá-las a entrar em mercados competitivos (como o caso do programa UTEN), isso sim, poderá ser determinante.

A nova economia é sobretudo uma economia de talentos e Portugal é um povo cheio de talento. Infelizmente, confundimos talento com graus académicos. Nas Universidades portuguesas, incentiva-se os jovens a passar nos exames, enquanto a sua criatividade se vai desvanecendo de grau em grau até que o ciclo se repita.

Cansado deste modelo, que em nada me revejo, hoje despedi-me (para já provisoriamente) do Ensino Superior. Deixei para trás as aulas de rotina para me dedicar a 100% a um projecto inovador, mas de alto risco, e no qual acredito convictamente. Não sei se irei triunfar, mas se fracassar, tenho a certeza que não me arrependerei um segundo que seja.

Armando Vieira
Armando.vieira@sairmais.com

2 comentários:

António Daniel disse...

Desejo-lhe as maiores felicidades. Concordo com o atavismo. Aí reside a diferença, de facto. O nosso imenso provincianismo está no modo pouco aristocrático com que olhamos para a nossa capacidade. Falta-nos o escol. Este só surge quando nos preocuparmos mais connosco do com aquilo que os outros dizem de nós. Falta-nos o rasgo vital de usarmos as nossas melhores armas. O problema é que as raízes são profundas e o medo ancestral.

Anónimo disse...

Eu já fui aluno do Armando Vieira. É uma excelente pessoa, a quem desejo as maiores felicidades. De facto, ele andava claramente deslocado nas função de professor e espero realmente que tenha sucesso (para bem dele e dos potenciais futuros alunos...)

NOVA ATLÂNTIDA

 A “Atlantís” disponibilizou o seu número mais recente (em acesso aberto). Convidamos a navegar pelo sumário da revista para aceder à info...